Araruama

Descrição Geral: A economia de Araruama gira principalmente em torno do turismo devido às suas belas praias e lagunas, e da extração do petróleo no mar. Outros setores que fortalecem sua economia são a pesca e a agricultura. A extração de sal hoje é bastante incipiente, tendo a Salina Carvalho como uma das poucas em atividade. A mineração de conchas na lagoa foi suspensa na década de 1990/2000.

Geologia: Na região predominam feições de relevo de baixa altitude como planícies marinhas e colinas suaves e isoladas. As rochas mais antigas possuem cerca de 2 bilhões de anos e são metamórficas, mas também ocorrem rochas ígneas, com idade aproximada de 130 milhões de anos. Elas registram a formação do supercontinente Gondwana e sua quebra, com a abertura do Oceano Atlântico, respectivamente. Destaque para as lagoas de Araruama e Vermelha por representarem um raro sistema hipersalino, que guardam registros das variações do nível relativo do mar desde 120 mil anos até o presente. Na Lagoa Vermelha há presença de estromatólitos, que são verdadeiras chaves para entender a evolução da vida e da atmosfera terrestre. Eles ocorrem por precipitação de carbonatos, que acumula camadas sucessivas de dolomita por ação microbiana, sendo um exemplo clássico mundial para formação desse mineral.

Histórico: Os primeiros habitantes de Araruama foram os indígenas Matarunas, que já conheciam e utilizavam o sal das salinas naturais existentes na região, sobretudo como atividade de subsistência, sendo que estudos arqueológicos indicam a localidade hoje denominada Ponta do Anzol como registro desta presença. A região também foi ocupada pela etnia dos Tupinambás, populações horticultoras e ceramistas de origem amazônica, que deixaram marcante presença de suas aldeias desde tempos pré-coloniais. Grande variedade de formas cerâmicas é encontrada nos diferentes sítios arqueológicos da região. As aldeias já pesquisadas estão entre as mais antigas ocupações do grupo Tupi em território nacional, que datam de 2.600 anos atrás. O local que atualmente corresponde à cidade de Araruama integrava a capitania de São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, em 1534, mas as primeiras ocupações do território datam de 1575, quando o governador do Rio de Janeiro, Antonio Salema, reuniu um exército para derrotar a Confederação dos Tamoios e acabar com o domínio francês que já durava 20 anos em Cabo Frio. Os registros sobre o território de Araruama datam de 1615, em consequência da fundação da atual cidade de Cabo Frio, onde são reconhecidos o rio São João e a Lagoa de Araruama. Em 10/01/1799, foi criada a freguesia de São Sebastião de Araruama, que pertenceu ao município de Cabo Frio até 1852, quando passou a integrar o município de Saquarema. Apenas em 06/02/1859 a freguesia foi elevada à categoria de Vila de Araruama devido à extinção da Vila de Saquarema.


PRINCIPAIS GEOSSÍTIOS:

ESTROMATÓLITOS E ESTEIRAS MICROBIANAS DA LAGOA VERMELHA
Localização: 22°55’31.53″ S; 42°22’26.42″ O
Descrição: Localizada no interior do Parque Estadual da Costa do Sol, na divisa entre os municípios de Araruama e Saquarema, é uma laguna hipersalina, ou seja, onde a salinidade é maior do que a do mar. É um local de relevância geológica e ambiental de caráter internacional por conta da presença de estromatólitos recentes, o que lhe confere raridade e um alto valor científico e, também, educativo. Estromatólitos (palavra que significa “tapetes de rocha”, nome derivado do grego stroma = tapete e litos = rocha) são depósitos laminados gerados pela ação de comunidades de micro-organismos que vivem em ambientes aquáticos rasos. Durante seu metabolismo estes seres microscópicos fazem fotossíntese e, no processo, liberam oxigênio para a atmosfera, precipitando e acumulando minerais. Os estromatólitos foram muito abundantes na Terra entre 3,5 bilhões e 500 milhões de anos. No entanto, hoje, eles se formam em poucos lugares do mundo como na Lagoa Vermelha e na Lagoa Salgada, no Brasil, ambas no território do nosso projeto de geoparque. Portanto, são raros. A acumulação dos micro-organismos promove a formação de esteiras microbianas, que são depósitos de matéria orgânica onde os estromatólitos se formam por empilhamento “in situ” (Vasconcelos, 1994). Essas esteiras, presentes nas margens da laguna e nos tanques e canais da salina, permitem observar e entender o processo de formação dos estromatólitos. Os estromatólitos são verdadeiras chaves para entender a evolução da vida e da atmosfera terrestre: da vida porque são as evidências macroscópicas de vida mais antigas que se conhece no nosso planeta e da atmosfera porque há cerca de 3,5 bilhões de anos não havia oxigênio livre na atmosfera primitiva. As pesquisas apontam para que a fotossíntese processada por micro-organismos construtores dos estromatólitos levaram à “contaminação” da atmosfera em oxigênio. Assim, a Lagoa Vermelha é muito importante nos estudos da origem da vida e da atmosfera terrestre. Também, possui importância econômica pela semelhança entre os estromatólitos e as rochas reservatórios de petróleo na camada do Pré-sal. A estes valores, podemos ainda agregar outro, que é a importância científica associada à presença do mineral dolomita (carbonato de cálcio e magnésio) na composição dos estromatólitos. No mundo ela é variada, mas no caso da Lagoa Vermelha, são encontrados estromatólitos compostos predominantemente por dolomita estratificada. Vale ressaltar que são poucos os locais no mundo em que há formação primária de dolomita, mineral que era considerado como formado unicamente a partir da modificação de outros em temperaturas especiais. Atualmente, encontram-se poucos exemplos mundiais de sua formação por ação microbiana: Sabkha, em Abu Dhabi; e Coorong, na Austrália. Assim, a Lagoa Vermelha tem sido usada como um laboratório natural para entender este processo, já que rochas dolomíticas são encontradas na Terra em ambientes muito mais antigos. A região abriga ainda uma importante salina, a Salina Carvalho, onde é possível entender o processo de retirada do sal e observar a arquitetura centenária, contemplando paisagens típicas com cata-ventos. Isso faz com que o sítio tenha um valor histórico-cultural. Do ponto de vista ambiental, além do ecossistema dos micro-organismos, pode-se ver uma grande riqueza de pássaros e de vegetação típica da restinga. O local contém um painel do Projeto Caminhos Geológicos. Por fim, caminhar desde a Lagoa de Araruama até o mar, passando pela Lagoa Vermelha, nos permite perceber o duplo cordão arenoso que faz parte da evolução geológica deste complexo lagunar hipersalino.

LAGOA DE ARARUAMA
Localização: 22°54’40.4” S; 42°21’29.2” O
Descrição: A Lagoa de Araruama é um geossítio de extrema relevância no nosso território, não só por ser a maior sistema lagunar hipersalino em estado permanente da Terra (cerca de 220 km²) como pela raridade do ecossistema em que ocorre. Banha os municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. A existência da Lagoa representa uma parte relativamente recente da história da Terra, correspondente aos registros de avanços e recuos do nível relativo do mar nos últimos 120 mil anos, ou seja, compreende o final do período Quaternário (pequena parte do Pleistoceno e todo o Holoceno, que é o nome da época em que vivemos). As variações no nível do mar muitas vezes representam mudanças climáticas cíclicas em nosso planeta, causadas por períodos de glaciação entremeados com momentos mais quentes, os interglaciais. Essas mudanças foram fundamentais para a deposição dos sedimentos na Restinga da Massambaba e para a existência deste sistema lagunar tão especial. Pela observação da imagem de satélite é possível perceber que a Lagoa de Araruama está separada do mar por um grande cordão arenoso, onde estão instaladas pequenas lagunas, como as Lagoas Vermelha, Pitanguinha, Pernambuca, Brejo do Espinho, entre outras. Estudos e datações revelaram que este cordão é composto por dois cordões de idades bem distintas, sendo que o mais velho não ocorre em toda a extensão da Massambaba e está mais próximo à Lagoa de Araruama (chamado de barreira interna). Ele foi associado à elevação do nível do mar que ocorreu há cerca de 120 mil anos, formando uma enseada onde hoje está a Lagoa de Araruama. Mas, no final do Pleistoceno, houve um período glacial bastante intenso, que fez recuar o nível do mar por conta do congelamento de água nos polos e continentes. Este recuo fez com que sedimentos se depositassem e houvesse a formação desse cordão mais velho e interno, cuja formação também foi facilitada pelo transporte de sedimentos pelas correntes marinhas. Posteriormente, entre 7 e 5 mil anos A.P (antes do Presente), houve uma nova elevação do nível do mar. A que ocorreu há 5 mil anos é considerada a maior do Holoceno e alcançou cerca de 3 m acima do nível atual. O mar novamente invadiu a Lagoa de Araruama, destruindo parte da barreira interna. No recuo do nível relativo do mar, que ocorreu após este momento, houve a formação por sedimentação da barreira externa que, assim, deixou seu registro nas pequenas lagunas existentes no interior do cordão. Sua hipersalinidade peculiar está associada ao fenômeno da ressurgência. Esse fenômeno é causado pela Corrente das Malvinas, de águas frias, que migram pelo fundo do oceano até que alcança a Ilha do Cabo Frio, ou Ilha do Farol, em Arraial do Cabo. Com os ventos de direção NE, as águas quentes nas partes mais rasas do oceano são empurradas e essa água fria sobe à superfície. Isto desfavorece a evaporação e, consequentemente, a formação de nuvens de chuva. Além disso, os ventos também dispersam as nuvens que não encontram barreiras de montanhas para provocar a precipitação na região. Esse conjunto de fatores gera um clima semiárido. Assim, são raros os rios e córregos para abastecer a Lagoa de Araruama e todo o sistema com água doce. A insolação e os ventos fortes favorecem a evaporação da água da lagoa, tornando-a hipersaturada em sais. Esta peculiaridade é responsável pela existência histórica das salinas na região, que emprestam beleza à paisagem com seus cata-ventos. Além disso, propicia as condições para formação de estromatólitos.

Referências: Prado, T.P.M. 2016. Caracterização de Fácies e Interpretação Paleoambiental em um Testemunho de Sondagem na Lagoa Vermelha, Planície Costeira de Araruama (Região dos Lagos), RJ. Trabalho de conclusão de curso (graduação), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Departamento de Geologia 53p. | Mansur, K.L. 2010. Diretrizes para Geoconservação do Patrimônio Geológico do Estado do Rio de Janeiro: o caso do Domínio Tectônico Cabo Frio [Rio de Janeiro]. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geologia, 214p. | Gênese da Morfologia do Fundo da Lagoa de Araruama e Cordões Litorâneos Associados | Estudo Preliminar da Climatologia da Ressurgência na Região de Arraial do Cabo, RJ

PONTA DAS BANANEIRAS
Localização:
22°52’39,659” S; 42°15’36,140” O
Descrição: O geossítio Ponta das Bananeiras pode ser acessado pelo Condomínio Lake View, cuja entrada se faz pela Rodovia Amaral Peixoto, na altura do km 91, próximo à Iguabinha. É um dos lugares fascinantes existentes na orla da Lagoa de Araruama. Do ponto de vista cênico, deste local se tem uma bela visão da laguna e do pôr do sol. Mas, pelo lado dos aspectos geológicos, pode-se conhecer um belo afloramento rochoso que evidencia os incríveis esforços tectônicos pelos quais a região passou. No local aflora um gnaisse, rocha metamórfica, datado em cerca de 2 bilhões de anos e que fazia parte do continente que colidiu com o antigo continente sul-americano para formar, junto com Índia, Antártica e Austrália, o Supercontinente Gondwana há cerca de 500 milhões de anos. Este gnaisse muito antigo corresponde ao que se denomina embasamento do Domínio Tectônico de Cabo Frio ou Terreno Cabo Frio. Mas o que a Ponta das Bananeiras possui de especial para que seja considerada como de alta relevância científica? É que neste local pode ser observada uma zona de cisalhamento bastante complexa cujo entendimento é valioso para desvendar os processos tectônicos (gerados no interior da Terra) que levaram à deformação das rochas durante o processo de amalgamação (=formação) do Gondwana. Uma zona de cisalhamento é uma faixa que sofreu tectonismo e que se caracteriza por apresentar rochas com vários graus de deformação. Dependendo da profundidade e do aquecimento a que foram submetidas na crosta, as rochas podem se apresentar quebradiças (ambientes mais rasos e mais frios) ou maleáveis (mais profundos e quentes). No caso da Ponta da Bananeira o processo de cisalhamento ocorreu em zonas profundas e quentes, pois as rochas apresentam textura e estruturas que mostram este comportamento maleável. O estudo dessas zonas se faz por meio da Geologia Estrutural, responsável por identificar a origem, direção e potência dos processos de deformação que ocorrem na crosta da Terra. Assim, em áreas como esta, os geólogos buscam entender os esforços que essa rocha, que estava a grandes profundidades enquanto o Gondwana se aglutinava, sofreu durante este evento grandioso do planeta. Beleza Cênica + Científica = Ponta das Bananeiras!

Referências: Berlim, R. 2017. Geoturismo como Estratégia para Geoconservação no Território dos Municípios Maricá, Saquarema, Araruama e Iguaba Grande – RJ. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Geologia, UFRJ, 223 p.

LAGOA PITANGUINHA
Localização:
22°55’42” S; 42°20’45” O
Descrição: A lagoa Pitanguinha está localizada na Restinga da Massambaba, em Araruama, um local de rara beleza e extrema riqueza de biodiversidade e geodiversidade. A lagoa possui aproximadamente 0,55 km² de área e águas hipersalinas, ou seja, mais salgadas que a água do mar, o que propicia a existência de salinas centenárias na região. Vale ressaltar que a Pitanguinha possui aproximadamente ⅔ do seu perímetro margeado por salinas, que foi, no passado, uma importante fonte de trabalho para a população local. Esta salinidade excessiva se deve à alta insolação, baixa precipitação pluviométrica e ventos frequentes que fazem com que o clima da região seja classificado como semiárido. A Lei Orgânica de Araruama, de 1996, declarou a lagoa Pitanguinha como área de Preservação Permanente, além de considerá-la Área de Relevante Interesse Ecológico. Mesmo assim, a lagoa está ameaçada pelo avanço da urbanização. A formação da Lagoa está relacionada a oscilações no nível do mar nos últimos 5 mil anos, associadas às variações climáticas, com períodos de glaciação e de aquecimento. Quando o nível do mar avança em relação à costa, nos momentos mais quentes, ocorre o “afogamento” das regiões mais baixas. Já quando o nível do mar recua, durante as glaciações, por exemplo, a linha de praia se desloca na direção do oceano. Estes movimentos deixam registros na topografia, denominados de barreiras arenosas, que correspondem às antigas linhas de praia. Durante estas variações do nível do mar, desenvolveram-se lagunas nas depressões entre a barreira da Lagoa de Araruama, que é mais velha, e o mar, formando as pequenas lagunas como a da Pitanguinha. Porém, o que a torna tão importante não são apenas esses registros, mas a presença de estromatólitos que vêm sendo estudados por cientistas de todo mundo. Os estromatólitos são rochas geradas pela ação de micro-organismos que realizam fotossíntese. Durante esse processo, retiram cálcio e dióxido de carbono da água, produzindo, então, carbonato de cálcio e liberando oxigênio. Estromatólitos representam o primeiro registro macroscópico de vida na Terra, há cerca de 3,5 bilhões de anos. Naquele momento, a atmosfera ainda não continha oxigênio livre, mas o ambiente marinho era dominado por cianobactérias que faziam fotossíntese enquanto formavam estromatólitos e, assim, ao longo de milhões de anos enriqueceram a atmosfera com o oxigênio liberado. Como os estromatólitos da Lagoa Pitanguinha são recentes, ou seja, formaram-se a partir dos últimos 5 mil anos, o local é um laboratório natural para o estudo da origem da vida na Terra. Diferente do que ocorreu há 3,5 bilhões de anos, estromatólitos recentes são raros no mundo, sendo que no Brasil eles ocorrem somente no Sistema Lagunar de Araruama, como nas lagunas Pitanguinha, Vermelha e Pernambuca, por exemplo, e na Lagoa Salgada, no norte do Estado. Todas estão contidas no território do nosso projeto de Geoparque. A Lagoa Pitanguinha é um patrimônio natural de relevância internacional e tem grande potencial educacional, científico e turístico. Proteger este local e por consequência os processos realizados pelos micro-organismos lá presentes auxilia no entendimento sobre a história do nosso planeta.

Referências: Damazio, C.M.; Silva, L.H.S.; Iespa, A.A.C. 2005. Correlações entre cianobactérias endolíticas e esteiras microbianas hipersalinas da Lagoa Pitanguinha, Neoquaternário do Rio de Janeiro, Brasil. Geociências, 10(6):11-16 | Damazio, C.M.; Silva, L.H.S.; Iespa, A.A.C.; Senra, M.C.E. 2007. Estudo Sedimentológico e Geomicrobiológico das Esteiras Microbianas Tipo Filme da Lagoa Pitanguinha, Região dos Lagos, Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, 30(1):67-72 | Rocha, L.; Borghi, L. 2017. Microbial Mat Microbiofacies Analysis of the Pitanguinha Lagoon (Região dos Lagos, RJ, Brazil). Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ, 40(1):191-205


PRINCIPAIS SÍTIOS DE INTERESSE HISTÓRICO-CULTURAL NA ÁREA DO GEOPARQUE:

MUSEU DE ARQUEOLOGIA DE ARARUAMA
Localização: 22º48’8.86” S; 42º24’55.16” O (Rodovia ViaLagos, 2 km após o pedágio, sentido Rio de Janeiro para Araruama)
Descrição: O museu foi criado para resgatar a cultura relacionada aos cerca de 20 sítios arqueológicos cadastrados no município, com especial destaque à cultura tupinambá. Seu acervo é composto por urnas funerárias, louças, peças cerâmicas e utensílios diversos (http://www.casadaciencia.ufrj.br/Publicacoes/guia/files/guiacentrosciencia2009.pdf). O prédio do museu é datado de 1862 e tombado pelo INEPAC.

CAMINHOS DE DARWIN
Localização: 22º53’8.75” S; 42º22’14.96” O (em Ponte dos Leites)
Descrição: No local há uma placa de estrada indicando a entrada para a antiga estação ferroviária, onde foi implantado o marco comemorativo da passagem de Charles Darwin, onde consta um trecho do diário de Charles Darwin sobre Araruama, por onde passou no dia 9 de abril de 1832 — “[…] Enfim adentramos a floresta. As árvores eram muito altas e o que havia de notável nelas era a brancura de seus troncos, o que as tornava muito impressionantes à distância. Vejo em meu caderno: “maravilhosos parasitas florescentes”. […] Na estrada passamos por grandes extensões de pastagem, muitas delas marcadas por imensos ninhos de formigas com cerca de 12 pés [3,7 m] de altura e forma cônica. […] Chegamos a Ingetado quando já estava escuro, após dez horas no lombo dos cavalos.”. Também chama a atenção o prédio da estação ferroviária, construído para auxiliar no escoamento da produção de sal.

SALINAS DE PRAIA SECA
Localização: 22°55’18.00” S; 42°18’95.16” O
Descrição: As salinas são marcantes na paisagem de Praia Seca, distrito do município de Araruama, associadas às lagunas hipersalinas, pelos moinhos de vento, construções, capelas e também seus armazéns de sal. O distrito está localizado na restinga de Massambaba entre a Lagoa de Araruama e o oceano, onde se encontra a Lagoa Vermelha, a Pitanguinha e a Pernambuca, todas com importância internacional pela presença de estromatólitos holocênicos. Praia Seca leva esse nome, pois os portugueses ao chegarem à região encontraram uma vasta área entre a Lagoa de Araruama e o oceano com grande quantidade de sal, e concluíram que o mar ali havia secado. Boa parte da restinga na região faz parte da APA – Área de Proteção Ambiental de Massambaba, em função das raras espécies vegetais e animais presentes e do Parque Estadual da Costa do Sol, que se estende em diversas áreas desde Saquarema até Armação dos Búzios. Os indígenas Mataruna, que habitavam Araruama bem antes dos europeus, já conheciam e utilizavam o sal das salinas naturais que ali existiam, e que mais tarde também passaram a ser exploradas, como a Salina do Padre e a Salina do Povo. Esses depósitos de sal se formam com evaporação das águas hipersalinas das lagoas pela exposição ao sol e ao vento com a cristalização do mineral halita, o cloreto de sódio. Em 1630 Portugal decretou o monopólio do sal, impedindo a produção e comercialização do produto em território brasileiro, o que gerou uma série de conflitos. Até que em 1759, D. João VI permite a exploração de sal para quem pudesse construir salinas em Cabo Frio e Pernambuco, e em 1798 áreas foram abertas para exploração, onde duas foram reservadas à “pobreza” da região, que também necessitava do produto para a conservação dos alimentos. Somente em 1824, D. Pedro I concede ao alemão Luis Lindenberg a terra para a primeira salina industrial do Brasil, a Salina Perynas, que ainda existe em Cabo Frio. Famílias portuguesas no final do séc. XIX, após o fim do monopólio português sobre a venda de sal no Brasil, além de migrantes de outras regiões do país, posteriormente, fixaram-se em Praia Seca e alavancaram a produção de sal na região, passando as salinas de geração em geração, assim como a tradição, os saberes e fazeres salineiros, uma vez que essa atividade é totalmente artesanal até os dias de hoje. As salinas foram a principal atividade econômica na região, e experimentou grande expansão até a década de 1970, quando se iniciou um processo gradual de decadência, devido à produção de sal no norte do país e à poluição das lagoas. A primeira grande salina construída em Praia Seca foi a Marrecas, em 1898 e pertencia à família do Sr. Abel Antunes que, posteriormente, vendeu à Sr.ª Hermínia Carvalho. Em 1930 já se somavam 41 salinas no estado do Rio de Janeiro, devido à implantação de técnicas de produção portuguesas, importação de moinhos de ventos, taxas alfandegárias mais agressivas sobre as importações, além da I Guerra Mundial, que dificultou o transporte do sal espanhol, o principal concorrente do sal fluminense. Na paisagem da época, destacamos a presença das chamadas “lanchas de sal”, que eram embarcações à vela que realizavam o transporte do sal entre as salinas no entorno da Lagoa de Araruama até o Porto de Cabo Frio, de onde o sal era escoado pelo mar para a capital. Essas embarcações eram construídas em estaleiros nas cidades de Araruama e Cabo Frio, geralmente pertencentes aos donos das salinas, e possuíam formato de baixo calado, próprio para navegar nas águas rasas da lagoa e atravessar seus canais. A produção das salinas que ainda resistem em Praia Seca e região normalmente se estende de agosto até março, período de maior insolação e de maior intensidade de ventos, que são necessários para evaporação da água em todo o processo de produção, pouco modificado desde o século XIX. Os moinhos são responsáveis por bombear a água das lagoas para dentro de um grande tanque, onde logo se atinge maior salinidade que das lagoas. Após algum tempo, essa água é repassada para um tanque menor, onde a salinidade continua a se elevar. Até que, por fim, a água chega aos pequenos quadros cristalizadores, onde ela já está muito viscosa devido à enorme concentração de sal que se cristaliza e precipita, sendo retirado com rodos e levado com carrinhos de mão para os armazéns. A paisagem das salinas está impressa fortemente na região. Em Araruama, por exemplo, faz parte do brasão municipal, mostrando a sua importância econômica e cultural.

Referências: João, C.R.V. 2012. Terra do Sal: Projeto de um Museu do Sal em Praia Seca, Araruama-RJ. Dissertação (mestrado), Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais, FGV, 134p. | Praia Seca (Araruama). Wikipédia | Salinas. Praia Seca – Turismo | Salinas de Praia Seca. Guia Lagos | Salinas, Praia Seca Araruama – RJ. Região Dos Lagos (Página – Facebook) | As Salinas da Lagoa de Araruama. Prefeitura de Araruama| Apresentação: Lagoa Vermelha – Patrimônio e Extração em Harmonia no Território do Projeto GpCL-RJ. Geoparque Costões e Lagunas do RJ (Canal – YouTube)

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