Saquarema

Descrição Geral: Saquarema é predominantemente turística e conhecida como a “Capital Nacional do Surfe” por sediar campeonatos nacionais e internacionais. Destaca-se pelas suas belas praias, lagoas, cachoeiras e montanhas. Além disso, as festas religiosas constituem um importante atrativo para o turismo local.

Geologia: Conhecer Saquarema é percorrer 2 bilhões de anos, quando se formou a maior parte das belas rochas que ocorrem no município. A Lagoa de Saquarema, assim como a de Maricá, teve sua origem há aproximadamente 120 mil anos e evoluiu pelas frequentes variações do nível relativo do mar que ocorreram desde então.

Histórico: Em 1530, D. João III, rei de Portugal, reconhecendo que o sistema de “excursões” para guardar as costas do Brasil exigia grandes sacrifícios e não apresentava resultados satisfatórios, por falta de pontos onde se provesse de mantimentos e de homens, resolveu fundar uma colônia nas margens do rio da Prata. Por força de uma Carta Régia datada de 20/11/1530, D. João III confiou a Martim Afonso de Souza à direção de uma frota composta de 2 naus, 1 galeão e 2 caravelas, tendo como tripulantes e passageiros cerca de 400 pessoas. Além de dar-lhe poderes extraordinários, entre os quais, o de “tomar posse e colocar marcos em todo o território até a linha demarcada”. A frota zarpou do porto de Lisboa em 03/12/1530, chegando à baía de Todos os Santos, depois de desmembrada de uma parte que se dirigiu para o norte, em 13/03/1531. No dia 17 deste último mês, Martim reiniciou sua viagem para o sul. Passados dias, após contornar o Cabo Frio, fundeou no “Costão”, em frente ao antigo “Morro do Sambaqui”, hoje conhecido pelo nome de “Morro do Canto”, situado próximo à “Barra Nova”. Nesse local, Martim encontrou regular número de índios da tribo dos Tamoios, obedientes à chefia de um índio denominado “Sapuguaçu”. Os índios habitavam em choças construídas em troncos de árvores e cobertas com palhas de tábua ou pita. Abastecidos seus navios, Martim prosseguiu sua viagem, abandonando as praias de “Socó-Rema”, denominação dada pelos indígenas, segundo reza a tradição, à zona lacustre, em virtude da existência nela observada de numerosos bandos de aves pernaltas, conhecidas pelo nome de socós, e com a evolução da linguagem passou a chamar-se Saquarema. Quatro anos após essa visita, o rei D. João III resolveu dividir o Brasil em Capitanias Hereditárias. Foi devido à concretização desse desejo real que as terras do atual município de Saquarema, em 1534, passaram a pertencer a Martim Afonso de Souza, por se encontrar dentro dos limites fixados para a Capitania de São Vicente, a ele doada nesse ano. No século XVII, foi erguida uma capela dedicada a Nossa Senhora de Nazaré no mesmo lugar onde, hoje, encontra-se a Igreja Matriz. Elevado à categoria de vila com a denominação de Nossa Senhora de Nazaré de Saquarema, sendo desmembrado de Cabo Frio em 08/05/1841.


PRINCIPAIS GEOSSÍTIOS:

BEACHROCKS DE DARWIN
Localização: 22°56’33.38″S; 42°40’10.31″O
Descrição: Na praia de Jaconé, na região entre Maricá e Saquarema, ocorrem beachrocks em mais de 1100m de extensão contínua (podendo alcançar 6 km em linha descontínua). Indicam uma posição do nível relativo do mar na época de sua formação um pouco mais baixa que a atual cerca de 0,5 m. Suas conchas foram datadas em 8.198 – 7.827 anos A.P. (Mansur et al. 2011), pelo método radiocarbono. Esta ocorrência permitiu a identificação de 3 litofácies em arenitos, coquinas e conglomerados. Foram descritas estruturas primárias como estratificação plano-paralela e cruzada de baixo ângulo e acanalada. Num Estado predominantemente formado por rochas cristalinas, esta rara ocorrência sedimentar reveste-se de importância. Seu valor é amplificado porque foi descrito por Charles Darwin, então com 23 anos de idade, em 9 de abril de 1832. Pesquisas arqueológicas realizadas na região descobriram seixos de beachrock nos sambaquis da Beirada e de Moa, em Saquarema, mostrando que este material já era conhecido do homem pré-histórico há mais de 4.000 anos A.P. Por seus atributos é classificado como patrimônio geológico com importância histórica e cultural e pelas informações científicas que abrangem aspectos geomorfológicos, sedimentar, paleoambiental, petrológico e estratigráfico, além de arqueológico e contextualizado na história da ciência. Tem importância internacional e valor científico, cultural, didático e ecológico.

PROMONTÓRIO DA IGREJA DE NOSSA SENHORA DE NAZARÉ
Localização: 22°56’12.5″ S; 42°29’33.5″ O
Descrição: Localizado no centro da cidade de Saquarema, o costão rochoso foi base para construção da Igreja de Nossa Senhora de Nazaré, um local considerado como prioridade nas visitas à cidade, não só pela belíssima arquitetura, mas pela sua localização privilegiada, no qual se projeta sobre o mar de Saquarema, proporcionando uma paisagem única. Além do alto valor geológico dos costões, a Igreja agrega valor cultural e turístico ao local, que também faz parte do roteiro do Projeto Caminhos de Darwin e recebeu um painel do Projeto Caminhos Geológicos. Por ser no centro, tem fácil acesso, estacionamento e restaurantes próximos. O local funciona também como um mirante natural, permitindo a visualização das praias de Jaconé, da Vila, Prainha de Itaúna e da Lagoa de Saquarema, além da visita à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. Em Itaúna são disputadas etapas do campeonato mundial de surf. Ao caminhar pelo costão rochoso, observam-se diversos registros geológicos, que representam excelentes exemplos didáticos. Dentre eles, encontram-se rochas metamórficas que estão sendo cortadas por rochas ígneas, além de estruturas como falhas e fraturas. Quando uma rocha é cortada por outra ou por uma estrutura, pode-se dizer que a rocha que antecedeu ao corte é mais antiga que os elementos que a cortaram. Esse é um princípio da Geologia, desenvolvido por James Hutton (1726-1797), considerado o “pai” da Geologia moderna. Rochas metamórficas são aquelas que sofreram metamorfismo, ou seja, foram submetidas a novas condições de pressão e temperatura, diferentes das vigentes no momento de sua formação. Durante o metamorfismo a rocha pode sofrer modificações como, por exemplo, deformação pelo alinhamento ou estiramento de minerais devido à pressão e, ainda, crescimento, recristalização ou, mesmo, formação de novos minerais. Estas rochas, apresentadas na forma de ortognaisses e ortoanfibolitos, do Complexo Região dos Lagos, foram datadas em 2 bilhões de anos (idade Paleoproterozoica). As rochas ígneas são aquelas provenientes da cristalização do magma a partir de seu resfriamento e são representadas na região por diques de diabásio de 130 Ma e pegmatitos de 500 Ma. Enquanto o diabásio é uma rocha com minerais pequenos e escuros, os pegmatitos se destacam pela sua granulação muito grossa, onde é possível identificar grandes cristais e pela cor mais clara (alguns deles zonados, com núcleo de quartzo e bordas feldspáticas). Do local, também é possível visualizar o cordão arenoso da Lagoa de Saquarema, originado pelas variações do nível relativo do mar (evolução de ilhas barreiras) nos últimos 120 mil de anos (Quaternário). Este promontório foi uma ilha durante o último ótimo climático, há 5.100 anos A.P. A igreja, tombada como patrimônio nacional pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), foi construída em 1640. O costão também possui uma cavidade natural que se encontra cadastrada no CECAV – Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas do ICMBio. É um lugar com múltiplos interesses, onde se pode explorar a ciência, a história, o esporte e a religiosidade. Vale visitar!

ESTROMATÓLITOS E ESTEIRAS MICROBIANAS DA LAGOA VERMELHA
Localização: 22°56’3.60″ S; 42°24’18.89″ O
Descrição: Localizada no interior do Parque Estadual da Costa do Sol, na divisa entre os municípios de Saquarema e Araruama, é uma laguna hipersalina, ou seja, onde a salinidade é maior do que a do mar. É um local de relevância geológica e ambiental de caráter internacional por conta da presença de estromatólitos recentes, o que lhe confere raridade e um alto valor científico e, também, educativo. Estromatólitos (palavra que significa “tapetes de rocha”, nome derivado do grego stroma = tapete e litos = rocha) são depósitos laminados gerados pela ação de comunidades de micro-organismos que vivem em ambientes aquáticos rasos. Durante seu metabolismo estes seres microscópicos fazem fotossíntese e, no processo, liberam oxigênio para a atmosfera, precipitando e acumulando minerais. Os estromatólitos foram muito abundantes na Terra entre 3,5 bilhões e 500 milhões de anos. No entanto, hoje, eles se formam em poucos lugares do mundo como na Lagoa Vermelha e na Lagoa Salgada, no Brasil, ambas no território do nosso projeto de geoparque. Portanto, são raros. A acumulação dos micro-organismos promove a formação de esteiras microbianas, que são depósitos de matéria orgânica onde os estromatólitos se formam por empilhamento “in situ” (Vasconcelos, 1994). Essas esteiras, presentes nas margens da laguna e nos tanques e canais da salina, permitem observar e entender o processo de formação dos estromatólitos. Veja mais detalhes no Livreto 2 da Série Geossítios. Os estromatólitos são verdadeiras chaves para entender a evolução da vida e da atmosfera terrestre: da vida porque são as evidências macroscópicas de vida mais antigas que se conhece no nosso planeta e da atmosfera porque há cerca de 3,5 bilhões de anos não havia oxigênio livre na atmosfera primitiva. As pesquisas apontam para que a fotossíntese processada por micro-organismos construtores dos estromatólitos levaram à “contaminação” da atmosfera em oxigênio. Assim, a Lagoa Vermelha é muito importante nos estudos da origem da vida e da atmosfera terrestre. Também, possui importância econômica pela semelhança entre os estromatólitos e as rochas reservatórios de petróleo na camada do Pré-sal. A estes valores, podemos ainda agregar outro, que é a importância científica associada à presença do mineral dolomita (carbonato de cálcio e magnésio) na composição dos estromatólitos. No mundo ela é variada, mas no caso da Lagoa Vermelha, são encontrados estromatólitos compostos predominantemente por dolomita estratificada. Vale ressaltar que são poucos os locais no mundo em que há formação primária de dolomita, mineral que era considerado como formado unicamente a partir da modificação de outros em temperaturas especiais. Atualmente, encontram-se poucos exemplos mundiais de sua formação por ação microbiana: Sabkha, em Abu Dhabi; e Coorong, na Austrália. Assim, a Lagoa Vermelha tem sido usada como um laboratório natural para entender este processo, já que rochas dolomíticas são encontradas na Terra em ambientes muito mais antigos. A região abriga ainda uma importante salina, a Salina Carvalho, onde é possível entender o processo de retirada do sal e observar a arquitetura centenária, contemplando paisagens típicas com cata-ventos. Isso faz com que o sítio tenha um valor histórico-cultural. Do ponto de vista ambiental, além do ecossistema dos micro-organismos, pode-se ver uma grande riqueza de pássaros e de vegetação típica da restinga. O local contém um painel do Projeto Caminhos Geológicos. Por fim, caminhar desde a Lagoa de Araruama até o mar, passando pela Lagoa Vermelha, nos permite perceber o duplo cordão arenoso que faz parte da evolução geológica deste complexo lagunar hipersalino.

SERRA DO PALMITAL
Localização:
22°50’26” S; 42°28’32” O
Descrição: A Serra do Palmital, em Saquarema, possui relevância científica, pois se caracteriza como local-tipo da Unidade Palmital cuja unidade geológica foi ali descrita pela primeira vez por Ferrari et al. (1982). A serra possui 594 metros de elevação máxima e apresenta importante cobertura vegetal original. A visitação é recomendada para estudantes do ensino superior e pesquisadores da área de Geociências, já que o local necessita de bons conhecimentos geológicos para que seja entendido seu significado. Localizada na divisa entre Rio Bonito, Saquarema e Araruama, estende-se na direção Norte-Sul e encerra o sistema das serras litorâneas do Rio de Janeiro. É constituída principalmente por (granada) sillimanita-biotita gnaisse, ou seja, um paragnaisse, rocha metamórfica de origem sedimentar, com presença dos minerais feldspato, quartzo, sillimanita, biotita e, por vezes, granada. Apresenta bandas claras e escuras, intercaladas, típicas dos gnaisses. Essas rochas são provenientes de sedimentos depositados em ambiente marinho, que sofreram metamorfismo há cerca de 520 Ma durante a colisão da Placa Sul Americana com a Africana, resultando na consolidação do Supercontinente Gondwana. Neste município a serra é considerada um geossítio de elevada importância, pois segundo aplicação da plataforma GEOSSIT da CPRM, possui relevância internacional. Na Serra do Palmital é possível entender parte da história geológica do Brasil presente no território do Projeto Geoparque Costões e Lagunas do RJ. As rochas desta unidade, junto com as da Unidade Búzios, formam o Complexo Búzios-Palmital, conjunto de rochas de origem sedimentar que podem ser estudadas em Armação dos Búzios, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Maricá, São Pedro da Aldeia e Saquarema. Assim, elas evidenciam os materiais existentes naquele antigo oceano que se fechou quando o Supercontinente Gondwana se formou.

Referências: Berlim, R. 2017. Geoturismo como Estratégia para Geoconservação no Território dos Municípios Maricá, Saquarema, Araruama e Iguaba Grande – RJ. Dissertação (Mestrado), Programa de Pós-graduação em Geologia, UFRJ, 223 p. | Ferrari, A.L.; Brenner, T.L.; Dalcolmo, M.T.; Nunes, H.R.C. 1982. O Precambriano das folhas Itaboraí, Maricá, Saquarema e Baia de Guanabara. In: XXXII Congresso Brasileiro de Geologia, Atas, 1:103-113 | Silva, H.R.G.; Schmitt, R.S.; Fonseca, L.G.; Santos, A.C.; Rodrigues, D.; Pereira, F.C.; Ramos, G.V.; Piza, P.A.T.; Costa, R.; Silva, R.S.; Monteiro, F. 2009. Geologia da Serra do Palmital (Saquarema, RJ) e a Relação Estrutural Embasamento e Supracrustais no Terreno Cabo Frio. Simpósio de Geologia do Sudeste, 15, São Pedro, SBG Núcleo SP, p. 38

LAGOA DE JACAREPIÁ
Localização: 22°54’51” S; 42°25’39” O
Descrição: No município de Saquarema, na localidade de Vilatur, encontra-se a lagoa de Jacarepiá, cujo nome significa na língua Tupi-Guarani, “amontoados de jacarés”, pela existência de jacarés-de-papo-amarelo no local. A lagoa de Jacarepiá, assim como outras do litoral da denominada Região dos Lagos, é um sistema cuja formação está relacionada com as mudanças relativas ao nível do mar nos últimos 5 mil anos. Estas variações são típicas dos tempos mais recentes da Terra e são causadas por mudanças climáticas. Em períodos de glaciação, a água fica presa na forma de gelo nos continentes e há uma diminuição do nível relativo do mar. Nos momentos mais quentes, ocorre o degelo e o nível do mar sobe. Pois bem, há cerca de 12 mil anos o clima mudou, passando de um período glacial para um interglacial que vivemos até o presente. Há cerca de 5 mil anos tivemos um momento mais quente do que o atual e, assim, houve uma invasão da água do mar no continente, formando enseadas que, com o recuo posterior por uma diminuição da temperatura, deixou para trás muitas pequenas lagoas e lagunas. Interessante notar que entre a lagoa de Jacarepiá e o mar existem dois cordões arenosos bem marcados. O primeiro separa nossa Lagoa de pequenas lagunas salobras e brejos, os quais são separados do mar por outro cordão elevado. Porém, Jacarepiá possui uma característica que a diferencia das lagoas e lagunas vizinhas, que é o fato de possuir água doce, mesmo muito próxima de lagunas hipersalinas. Por exemplo, ela se localiza cerca de 2,3 km de distância, em linha reta, a oeste da Lagoa Vermelha, considerada a mais hipersalina do Sistema Lagunar de Araruama. Entretanto, o contexto geológico da lagoa de Jacarepiá é bem diferente. Enquanto a Lagoa Vermelha é circundada por sedimentos arenosos recentes, Jacarepiá está cercada a norte, leste e oeste por morros de rochas metamórficas e por alguma cobertura sedimentar da denominada Formação Barreiras. Assim as águas da chuva infiltradas e a dos poucos córregos existentes se direcionam para esta bacia hidrográfica muito peculiar. As rochas que a contornam, por sua baixa permeabilidade, impedem a entrada da água salgada vinda de leste, do Sistema Lagunar de Araruama. Vale ressaltar que a Lagoa Vermelha dista entre 100 e 300 m da praia. Diferentemente, a Lagoa de Jacarepiá está distante cerca de 1 km do mar, separada pelos dois cordões litorâneos que também a protegem da entrada de água marinha. Ela, por sua vez, descarrega água doce no brejo pelo cordão arenoso, fazendo com que ele possua água salobra. Este processo é responsável por sustentar um vasto e delicado ecossistema, na forma de brejos e alagados, vegetação típica de restinga e altas árvores da Mata Atlântica. Preocupa a crescente ocupação urbana na região. A Lagoa de Jacarepiá, que está inserida no Parque Estadual da Costa do Sol, precisa ser preservada, pois é uma joia entre joias. Uma lagoa diferente entre tantas lagunas diferentes. São exemplos dos encantos da bio e geodiversidade presentes no território do nosso projeto de Geoparque.

Referências: Arnt, P. 2020. Balanço hídrico da região da Lagoa de Jacarepiá, Saquarema (RJ): uma contribuição à hidrogeologia local. Trabalho Final de Curso (Geologia), IGEO, UFRJ, 74p.

CACHOEIRA DO TINGUÍ
Localização: 22°50’28” S; 42°36’40” O
Descrição: O notável ponto turístico de Saquarema, a Cachoeira do Tinguí, possui grande beleza cênica e propicia refrescantes banhos de rio aos visitantes. Além disso, é um sítio estratégico para entender a Geologia do Estado do Rio de Janeiro, em especial sobre os eventos relacionados à atividade magmática que ocorreu durante a formação do Supercontinente Gondwana. A diversidade de rochas e a relação de contato entre elas fazem, ainda, com que seja considerada altamente didática para o ensino de Geologia. A área está inserida em um contexto de antigo sistema de orógenos (oros = montanha; genus = geração/origem) ou formação de montanhas, que ocorreu entre aproximadamente 640 e 490 milhões de anos, quando data a formação do paleocontinente Gondwana, por meio da tectônica de placas. Quando continentes colidem (colisão continental), parte das rochas que se encontram nas regiões mais profundas deste orógeno começa a entrar em fusão produzindo magma (rocha fundida). Este magma ao consolidar (resfriar/cristalizar) em profundidade vai dar origem às rochas ígneas semelhantes às encontradas na Cachoeira do Tinguí. A elevada variação de pressão e temperatura nesses ambientes tectônicos modificam as rochas existentes (ígneas ou sedimentares), transformando-as em rochas metamórficas, que também ocorrem na cachoeira, neste caso derivadas de rochas ígneas. Os processos de cristalização, fusão e metamorfismo das rochas ocorrem em intervalos de tempo distintos, e isso está muito bem representado neste sítio geológico. A colisão continental é responsável, por exemplo, pela formação da Cordilheira do Himalaia, gerada pela junção da placa tectônica da Índia com a Euroasiática. É precedida pelo fechamento de um oceano, onde a crosta oceânica “mergulha” sob a crosta continental, porque é menos espessa e mais densa que ela. Este evento também forma uma cordilheira de montanhas, como é o caso dos Andes. Quando o oceano é fechado e a crosta oceânica é consumida por completo, tem início a colisão continental, que por sua vez aumenta a espessura da crosta continental. Este evento tectônico gera atividade magmática e metamorfismo nas rochas ígneas e sedimentares preexistentes. As rochas da Cachoeira do Tinguí foram datadas por Martins e colaboradores em 2006, pelo método Urânio-Chumbo (cálculo a partir do decaimento radioativo de um isótopo de urânio para outro de chumbo). Foram obtidas as idades de cristalização da unidade Tinguí de 551 Ma e dos corpos ígneos com idades de 510 e 495.3 Ma. Pode-se observar isso nos contatos entre essas rochas encontradas na Cachoeira do Tinguí, pois quando uma rocha é cortada por outra ou por uma estrutura, pode-se dizer que a rocha que antecedeu ao corte é mais antiga que os elementos que a cortaram. A Geologia local, conjugada com a beleza da cachoeira e da vegetação, tornam possível o Geoturismo em um lugar de lazer e de contemplação da natureza. Os moradores e turistas que visitam o local podem desfrutar da parte inferior da cachoeira, que é aberta ao público, e onde também são vistos vários exemplos de relação de contato e idade relativa entre as rochas.

Referências: Ferrari, A.L.; Brenner, T.L.; Dalcolmo, M.T.; Nunes, H.R.C. 1982. O Pré-cambriano das folhas Itaboraí, Maricá, Saquarema e Baía de Guanabara. Anais da XXXII Congr. Bras. Geol., 1:103-113 | Mansur, K.L.; Martins, G.; Verbicario, M.E.T.; Gonçalves, R.R.T.; Riente, U.L.; De Negri, R.C.R.; Monteiro, F.A.; Da Silva, N.N.P.; Frossard, C. 2020. Cachoeira do Tinguí e sua relevância turística e científica. Geoparque Costões e Lagunas, UFRJ. Série Geossítios, n.º 3, 16p. | Martins, G.G.; Mendes, J.C.; Schmitt, R.S.; Armstrong, R.; Valeriano, C.M. 2016. 550-490 Ma pre-to post-collisional shoshonitic rocks in the Ribeira Belt (SE Brazil) and their tectonic significance. Precambrian Research, 286:352-369 | Valeriano, C.M.; Tupinamba, M.; Simonetti, A.; Heilbron, M.; Almeida, J.C.H.; Eirado, L.G. 2011. U-Pb LA-MC-ICPMS geochronology of Cambro-Ordovician post-collisional granites of the Ribeira belt, southeast Brazil: terminal Brasiliano magmatism in central Gondwana supercontinent. J. S. Am. Earth Sci. 32:415-428 | Como Sabemos a Idade das Rochas? Serviço Geológico do Brasil – CPRM


PRINCIPAIS SÍTIOS DE INTERESSE HISTÓRICO-CULTURAL:

SAMBAQUI DA BEIRADA
Localização: 22°55’32.62” S; 42°32’37.88” O
Descrição: No município de Saquarema, além de vasta geodiversidade, já foram identificados 22 sítios arqueológicos cuja maioria (17), infelizmente, foi perdida devido à ocupação humana na região. Um dos sítios ainda preservados é o Sambaqui da Beirada, localizado em Barra Nova, numa faixa arenosa entre a lagoa de Saquarema e o mar, onde também foi protegida uma área com típica vegetação de restinga. Este sítio arqueológico e ambiental é um museu “in situ” aberto à visitação sob administração municipal. Assim, em 1997 foi inaugurado o Museu do Sambaqui da Beirada, sendo a primeira exposição arqueológica ao ar livre de um sambaqui no Brasil. Sua instalação foi coordenada pela arqueóloga do Museu Nacional/UFRJ, Lina Kneip, que tinha como maior objetivo preservar o local, que contém material de extrema importância para o estudo das mudanças culturais e também paleoambientais da região. Sambaquis são sítios arqueológicos que contêm material conchífero, ósseo, artefatos de rocha e outros materiais, que permitem o entendimento da cultura das populações pré-históricas que habitaram o local onde ocorrem. Não são cemitérios de índios, os quais só chegaram ao litoral muito após os sambaquianos. O Sambaqui da Beirada foi datado pelo método radiocarbono, sendo obtidas idades entre aproximadamente 4.500 e 3.800 anos A.P. (Antes do Presente) em quatro camadas estudadas. Em trabalho de 1988, Kneip, Crancio e Rodrigues Francisco indicaram um inventário de 398 peças de pedra, 269 de ossos e 208 de conchas. Entre os objetos líticos (de pedra) estão machados, percussores, polidores, entre outros. Entre os objetos ósseos, é possível destacar pontas e agulhas para confecção de redes de pesca, indicando que o habitante do Sambaqui da Beirada era coletor de moluscos e pescador. O principal tipo de rocha utilizado nos artefatos foi o diabásio, rocha ígnea subvulcânica representativa do episódio de separação entre a América do Sul e a África. Rodrigues Francisco, em seu trabalho de 1995, informou que também foram encontrados objetos líticos compostos por rochas granitóides, quartzo, coquina e “beachrock”. Esta última também encontrada no Sambaqui de Moa, também em Saquarema. Somente em 1998, este autor identificou ocorrência de “beachrock” em Jaconé e ligou a proveniência dos artefatos arqueológicos a ela. Posteriormente em pesquisas do Projeto Caminhos de Darwin, estas rochas foram datadas em cerca de 8.000 anos A.P. e caracterizadas como indicativas de uma antiga linha de praia. Foram descritas na caderneta de campo do naturalista inglês em 1832. Visitando o museu a céu aberto, você tem a oportunidade de conhecer um dos sítios culturais mais importantes do Geoparque Costões e Lagunas do RJ. Preservar locais como este vai além de proteger o patrimônio material das antigas comunidades, mas significa manter viva a sua memória por meio da divulgação de sua história e cultura!

Endereço/Contato: Rua Sambaqui da Beirada – Barra Nova / Saquarema | (22) 99921-8364 (Vanderléa) | Quarta a Sexta-feira, das 13h às 16h, e Sábado, das 09h às 16h

Referências: Kneip, L.M.; Crancio, F.; Francisco, B.H.R. 1988. O Sambaqui da Beirada (Saquarema – Rio de Janeiro): Aspectos Culturais e Paleoambientais. Revista de Arqueologia, v. 5, n. 1, p. 41-54. https://revista.sabnet.org/index.php/SAB/article/view/67/63 | Francisco, B.H.R. 1995. Ocorrência de Seixos de Arenitos de Praia nos Sambaquis do Moa e da Beirada e a Variação do Nível do Mar no Litoral de Saquarema (RJ). In: SBG, Cong. da ABEQUA, 5, Resumos, p. 42-45 | Francisco, B.H.R., Andrade, W.A., Machado, S. 1998. Arenito de Praia de Jaconé (RJ) e sua Relação com o Material Lítico dos Sambaquis de Saquarema (RJ). In: SBG, Cong. Bras. Geologia, 40, Anais, p.417.

CAMINHOS DE DARWIN
Localização: 22°55’32.62″ S; 42°32’37.88″ O
Descrição: No dia 9 de abril de 1832, Charles Darwin passa pela praia de Jaconé, descreve os beachrocks existentes na beira-mar e, finalmente, hospeda-se às margens da Lagoa de Saquarema. Este local era conhecido como Manatiba ou Mandetiba, hoje Manitiba. Segue um trecho dos relatos de sua caderneta de campo (Chancellor e Van Wyhe 2009): “9.th [April 1832] [page 5b] […] Geology: found a fragment on beach of sandstone with numerous Mactra. — the whole line of beach is composed of an extensive [page 6b] flat or a lake. between which & sea are large sand hills. on which the surf roars (by night fi ne effect) fresh land is gaining. — Sand emits a shrill sound […] Manatiba dined Temp in shade 84° our senses were refreshed by food & a more extended & prettier view: refl ection very clear in the lake.”. No seu diário ele cita ainda, a presença das lagoas de águas doces e salgadas.

Deixe seu comentário: