Geoparque Costões e Lagunas

Texto extraído com pequenas modificações do Capítulo 19 do livro “Geoparques do Brasil: Propostas”,
editado pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM.

Desde 2010 está em discussão uma proposta para estabelecimento de um Geoparque na região do litoral norte e leste do Estado do Rio de Janeiro. Ela aponta na direção da conservação de uma área com beleza e conteúdo geocientífico singular. A proposta foi intensamente discutida durante o ano de 2011 e culminou com a indicação de uma área que envolve porções litorâneas da região e abrange desde o Município de Maricá até São Francisco de Itabapoana, no norte do Estado do Rio de Janeiro. Compreende áreas de interesse científico, didático-pedagógico, turístico, histórico, pré-histórico e ecológico. Estão incluídos neste perímetro 16 municípios cuja área e população podem ser observadas na tabela a seguir. Vale ressaltar que cerca de 15% da área corresponde a Unidades de Conservação estadual ou federal, além de espelho d´água de lagoas e lagunas.

Município

Área (km²)

População Estimada

Densidade Demográfica (habitantes/km²)

ARARUAMA

638,1

126.742,00

198,6

ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

70,3

32.260,00

459,0

ARRAIAL DO CABO

159,0

29.304,00

184,4

CABO FRIO

410,4

216.030,00

526,4

CAMPOS DOS GOYTACAZES

4.026,7

490.288,00

121,8

CARAPEBUS

308,1

15.568,00

50,5

CASIMIRO DE ABREU

460,8

41.999,00

91,1

IGUABA GRANDE

51,9

26.936,00

518,5

MACAÉ

1.216,8

244.139,00

200,6

MARICÁ

362,6

153.008,00

422,0

QUISSAMÃ

712,9

23.535,00

33,0

RIO DAS OSTRAS

229,0

141.117,00

616,1

SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA

1.122,4

41.191,00

36,7

SÃO JOÃO DA BARRA

455,0

35.174,00

77,3

SÃO PEDRO DA ALDEIA

332,8

99.906,00

300,2

SAQUAREMA

352,7

85.175,00

241,5

TOTAL – GEOPARQUE COSTÕES E LAGUNAS

10.909,588

1.802.372,00

165,2

TOTAL – ESTADO RJ

43.781,588

16.718.956,00

381,9

TOTAL – BRASIL

8.515.759,090

207.994.462,00

24,4

Fonte dos Dados: IBGE Cidades | População em julho de 2017 | População Brasileira estimada em 14/09/2017

Durante o ano de 2011 foram realizadas mais de uma dezena de reuniões abertas com ampla divulgação e com a participação de representantes dos municípios, de órgãos públicos de nível estadual e federal e de ONGs, empresários de vários ramos e população em geral. Nestas reuniões foram selecionados diversos sítios naturais e construídos, que foram considerados relevantes para os municípios envolvidos.

A região proposta para o Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio de Janeiro compreende área com evolução geológica singular envolvendo mais de 2 bilhões de anos de história geológica e afloramentos que podem ser enquadrados em tipologias variadas como, por exemplo, espeleológico, estratigráfico, geomorfológico, hidrogeológico, história da ciência, ígneo, marinho-submarino, paleoambiental, mineralógico, tectono-estrutural, incluindo vestígios arqueológicos e sítios de interesse histórico/cultural.

Nos costões predominam litotipos metamórficos, para e ortoderivados, que registram a evolução tectônica desde o Paleoproterozoico até a Orogenia Búzios, no Cambriano, e granitos ordovicianos. Envolve a área continental adjacente às bacias sedimentares de Campos e de Santos, inclusive o alto estrutural de Cabo Frio, que as separa, e estruturas geológicas como grabens e falhas. Além disso, ocorrem diques toleíticos mesozoicos e corpos alcalinos plutônicos a subvulcânicos paleocênicos. Possui raridades mineralógicas como os pseudomorfos de pseudoleucita e de sillimanita sobre cianita.

Unindo os costões, os sedimentos são de idades, origens e composições diversas, com depósitos continentais e marinhos rasos do Mio-Plioceno, fluviais, marinhos, lagunares e eólicos do Pleistoceno ao Holoceno.

A região possui ainda um microclima semiárido gerado por ressurgência sazonal de águas frias da Corrente das Malvinas, na costa de Arraial do Cabo, o que permitiu o desenvolvimento de flora e fauna endêmicas. Este clima também permitiu o desenvolvimento de lagunas hipersalinas com características físico-químicas, sedimentológicas e principalmente biológicas únicas, em que a presença de estromatólitos e dolomita recentes, originados da ação de bactérias, as transforma em laboratórios naturais de importância internacional.

Foram descritos dezenas de sítios arqueológicos. A região possui sítios históricos relacionados às primeiras povoações brasileiras que nos remetem ao descobrimento do país, à exploração do pau-brasil, à invasão francesa em Cabo Frio e ao caminho dos Jesuítas. Na região foi registrada a passagem de naturalistas como Charles Darwin, príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied e Saint-Hilaire.

Destacam-se ainda as salinas como patrimônio geomineiro e cuja operação permanece quase a mesma desde o século 19. Notáveis são os faróis, as histórias dos naufrágios, as construções tombadas e lendas e mitos contadas pela população caiçara e quilombola. O turismo fomenta intensa atividade de pesca subaquática e esportes náuticos, bem como gastronomia típica e um sistema hoteleiro diversificado.

Até 2018, já foram implantados 33 painéis interpretativos do Projeto Caminhos Geológicos e 9 dos Caminhos de Darwin. A região ainda possui rede estabelecida de Educação Ambiental envolvendo comitê de bacia, prefeituras, escolas e ONGs.

Ainda é possível encontrar na região núcleos preservados de vegetação de restinga, um dos biomas mais ameaçados do país, pelo mais antigo e maior grau de ocupação desta porção do território. A fauna e flora da região são reconhecidas por sua raridade e, por este motivo, foram criadas algumas Unidades de Conservação – UCs de Proteção Integral e Desenvolvimento Sustentável. Muito são os organismos endêmicos mapeados na área. A título de exemplo, vale citar a vegetação classificada como estepe arbórea aberta da região entre Arraial do Cabo e Armação dos Búzios, o mico-leão-dourado, o formigueiro-do-litoral e a descoberta, em 2011, de uma nova espécie de mamífero na região, no território do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, denominado de ratinho-goytacá (Cerradomys goytaca). Recifes de coral constituem, ainda, importante ecossistema em Armação dos Búzios.

A principal atividade econômica da região está na indústria do petróleo, uma vez que a área compreende a importante região produtora da Bacia de Campos e parte da Bacia de Santos, cujo limite encontra-se no alto estrutural de Cabo Frio (ver tabela a seguir). Soma-se, ainda, o importante setor de serviços, em particular ao relacionado ao turismo na denominada região da Costa do Sol. Nas porções mais interiores dos municípios, a agropecuária desempenha importante papel, somada ao do turismo rural.

Posição no RJ

Posição no Brasil

Beneficiários

VALOR

Total em junho de 2018

Acumulado em 2018

40

101

ARARUAMA 1.115.383,11 6.039.832,50

15

26

ARMAÇÃO DOS BÚZIOS 5.525.316,14 28.897.801,32

17

29

ARRAIAL DO CABO 3.758.724,52 19.869.504,18

5

7

CABO FRIO 11.440.112,65 64.142.528,51

2

2

CAMPOS DOS GOYTACAZES 35.705.523,50 204.702.010,39

20

33

CARAPEBUS 3.305.178,48 17.607.119,08

14

25

CASIMIRO DE ABREU 5.606.836,26 30.045.135,44

60

148

IGUABA GRANDE 762.810,82 4.128.211,36

1

1

MACAÉ 47.711.357,67 258.283.504,04

3

3

MARICÁ 41.635.421,12 215.496.152,68

12

19

QUISSAMÃ 5.431.173,13 31.816.123,89

6

9

RIO DAS OSTRAS 12.055.513,11 65.418.982,37

48

120

SÃO FRANCISCO DE ITABAPOANA 909.505,21 4.922.176,45

8

12

SÃO JOÃO DA BARRA 9.159.426,88 50.500.933,81

44

108

SÃO PEDRO DA ALDEIA 1.056.199,61 5.716.010,26

9

14

SAQUAREMA 5.806.110,62 34.645.635,26
RJ – ESTADO 342.912.692,05 1.851.790.840,34
TOTAL BRASIL 1.111.737.771,33 6.132.991.643,61

Fonte dos Dados: ANP | Royalties em junho de 2018 | Total de municípios beneficiados no Brasil e no RJ, respectivamente: 1008 e 87

A tabela a seguir apresenta a situação do IDHM – Índice de desenvolvimento Humano municipal no território do Geoparque proposto, incluindo os índices relacionados a Renda, Longevidade e Educação.

Espacialidades

IDHM

IDHM Renda

IDHM Longevidade

IDHM Educação

Brasil

0,727

0,739

0,816

0,637

Araruama

0,718

0,714

0,839

0,617

Armação dos Búzios

0,728

0,750

0,824

0,624

Arraial do Cabo

0,733

0,722

0,805

0,677

Cabo Frio

0,735

0,743

0,836

0,640

Campos dos Goytacazes

0,716

0,715

0,830

0,619

Carapebus

0,713

0,699

0,805

0,644

Casimiro de Abreu

0,726

0,734

0,811

0,642

Iguaba Grande

0,761

0,744

0,841

0,704

Macaé

0,764

0,792

0,828

0,681

Maricá

0,765

0,761

0,850

0,692

Quissamã

0,704

0,698

0,821

0,610

Rio das Ostras

0,773

0,784

0,854

0,689

São Francisco de Itabapoana

0,639

0,618

0,791

0,533

São João da Barra

0,671

0,686

0,800

0,551

São Pedro da Aldeia

0,712

0,721

0,801

0,626

Saquarema

0,709

0,714

0,804

0,621

Fonte: Atlas Brasil | IDHM de 2010 | Em negrito estão os índices que são iguais ou maiores que o do Brasil | Destaque em cinza para os municípios que ultrapassam os valores brasileiros nos quatro índices listados